São Francisco de Assis


São Francisco de AssisNesta festa de São Francisco, que tanto inspirou Santo Ivo durante a sua vida toda, é bom refletir sobre a questão do respeito da criação como uma necessidade imperativa de justiça.

O Beato papa Paulo VI escreveu “o eterno exemplo de São Francisco de Assis e das grandes Ordens contemplativas cristãs oferecem um testemunho de harmonia interior, obtida no âmbito de uma comunhão confiante nos ritmos e nas leis da natureza.” São João Paulo II relacionou a paz com Deus Criador e a paz com a criação. É bom de nos lembrar também as palavras do papa Bento XVI, que escreveu que a natureza é a expressão de um desígnio de amor e de verdade que fala-nos do Criador e de Seu amor por a humanidade… Então, esbanjar a criação constitui uma tripla injustiça: para com Deus, para com os outros – no momento presente e no futuro -, para com eu mesmo.

A Bíblia nos revela que o ser humano foi criado à imagem de Deus, constituído senhor de todas as coisas terrenas, para que as dominasse e usasse, glorificando a Deus. Este domínio do homem não é um poder absoluto, nem se pode falar de liberdade de ‘usar e abusar’… Na verdade, ‘subjugar’ e ‘dominar’ são verbos que, na linguagem bíblica, servem para descrever o domínio do rei sábio, que cuida do bem-estar de todos os seus súditos. Pois, o homem deve respeitar as leis que regulam o impulso vital e a capacidade de regeneração da natureza: não fazermos seria pecar contra a justiça devida a Deus.

concilio 50 anosTambém, esbanjar a criação é pecado contra os outros. O concilio Vaticano II lembra que Deus destinou a terra, com tudo que ela contém, para o uso de todos os homens e povos, de tal modo que os bens criados devem bastar a todos, com equidade, sob as regras da justiça, inseparável da caridade. Por um lado, as decisões sobre a vida econômica devem atender às necessidades individuais e coletivas da geração presente; por outro lado, é preciso prever o futuro, estabelecendo justo equilíbrio entre as necessidades atuais de consumo, individual e coletivo, e as exigências de preservação e transmissão de bens para as gerações futuras. Pois pertencem a uma única família, os seres humanos devem entender que a ambiente natural não deve ser objeto de apropriação pessoal exclusiva, mas é um bem comum, um patrimônio da humanidade. Pensar e atuar duma maneira diferente é um pecado: impede que cada receba o que ele é devido. Ora, os países ricos consomem 80% da energia disponível e se a população toda do mundo vivesse da mesma maneira como nos países desenvolvidos, precisaria de recursos naturais pelo menos três vezes mais importantes do que aqueles já existentes na terra. Precisam mudar seu estilo de vida consumista, deletério para a natureza.

image005Em fim, esbanjar a criação constitui uma injustiça para com eu mesmo. João Paulo II escreveu: “O homem, tomado pelo desejo de possuir e de gozar, mais do que de ser e de crescer, consome de modo excessivo e desordenado os recursos da terra e a sua própria vida.” Ora, são João Maria Vianney falou que haveremos de dar conta de cada minuto perdido, de nossa saúde, de nossos bens, das graças que esbanjamos, em fim de tudo o que não usando-os para fazer o bem… Isso é o que significa pecar por omissões: omitir fazer o bem que deveríamos ter feito… Com efeito, tudo o que cada um de nós recebemos é um dom de Deus para que o coloquemos ao serviço uns do outros … incluído os recursos naturais.

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Paulo VI escreveu : “Todas as medidas técnicas serão ineficazes para minorar os males já causados ao ambiente se não forem acompanhadas por uma tomada de consciência da necessidade de uma transformação radical de mentalidades”. Assim como o Papa Francisco contou na Jornada Mundial da Juventude, citando a Madre Teresa: “para mudar o mundo, cada um deve iniciar por se mudar ele mesmo. Se trata duma conversão pessoal. Agora, soou a hora de ele dominar o seu próprio domínio”. É preciso fazer uma revisão séria do estilo de vida moderno, inclinado ao hedonismo e consumismo e indiferente aos danos que disso provém. O estilo de vida profético de São Francisco, que, em se casando com a Senhora Pobreza, se despojou de tudo, nos chama a nos dar conta que nossa vida é curta e que devemos atuar depressa para corrigir nossa maneira injusta de viver.